Entrevistas

Entrevista especial com o Procurador de Justiça Nicolau Libório

 

Após quatro anos como Corregedor do MP-AM, o Procurador de Justiça Nicolau Libório, em entrevista especial, fala sobre o trabalho desenvolvido, da carreira de jornalista e da inspiração para escrever o livro que irá lançar no próximo dia 1º de março e dá detalhes da vida profissional. Confira a entrevista abaixo.

 

Quando decidiu fazer jornalismo, porque optou pela área esportiva ? Conte-nos um pouco dessa trajetória?

Resposta – Comecei no rádio, na área esportiva, em 1965. Tive a primeira oportunidade na Rádio Baré, a emissora da avenida Eduardo Ribeiro. Após um curto período de tempo passei a integrar a equipe esportiva da Rádio Rio Mar, que tinha seu estúdio bem atrás do estádio do São Raimundo. Cheguei até a emissora da Arquidiocese a convite do jornalista Messias Sampaio. Lá, no primeiro momento, tive o apoio do Belmiro Vianez, Luiz Eduardo Lustosa e José Augusto Roque da Cunha, três grandes companheiros que viveram comigo a fase romântica do rádio e o período de esplendor do futebol amazonense. Em 1969 cheguei à Rádio Difusora, liderada pelo saudoso amigo Josué Cláudio de Souza, o homem da Crônica do Dia, onde permaneci por 20 longos anos, fazendo esporte, transmitindo apurações de pleitos eleitorais, cumprindo outras missões como, por exemplo, bailes de carnaval e desfiles carnavalescos. Os desfiles carnavalescos ocorriam na avenida Eduardo Ribeiro e esse evento ainda não contava com a participação das atuais escolas de samba. . Em jornal, iniciei em 1967, em A Crítica, com o apoio de Messias Sampaio, Abraim Aleme e Raimundinho Albuquerque. Atuei, na primeira parte dos anos 1970, na editoria esportiva de O Jornal e Dário da Tarde. Nos matutinos do grupo Archer Pinto também fiz cobertura na área política, quando a Câmara Municipal de Manaus tinha vereadores do nível de José Francisco da Gama e Silva, Fábio Lucena e Francisco Queiroz. No jornal A Notícia fui editor de esportes por três vezes, em períodos distintos, do início dos anos 1970 e 1980. Já nos anos 1990, na condição de colaborador, fui articulista do caderno de esportes do jornal Amazonas Em Tempo. Lembro que no período dourado do nosso futebol, época em que os nossos clubes participavam da elite do futebol brasileiro, fui correspondente/colaborador de Placar, revista de circulação nacional, da editora Abril. Também atuei em televisão, tempo em que a TV Amazonas transmitia a programação da Rede Bandeirantes, na primeira parte da década de 1970. A minha ligação com o esporte como dá para perceber é movido por uma forte paixão. E paixão é um sentimento muito forte, que poucos conseguem entender ou explicar.

 

E como o Direito surgiu em sua vida? Por que optou pelo Ministério Público?

Resposta – Ao terminar o curso ginasial, fui fazer contabilidade no Colégio Sólon de Lucena. Percebi que não era a minha praia e andei meio desorientado. Como não consegui transferência para o curso científico, no Colégio Estadual (Pedro II), fui orientado pelo Maneca (professor Maneca, grande craque de futebol de salão) a ingressar no curso clássico. Foi a partir daí que passei a me interessar pelo Direito. Ingressei na Faculdade de Direito da Universidade Federal, no início dos anos 1970 e tive como colegas de turma Domingos Chalub, Encarnação das Graças Sampaio Salgado, Graça Figueredo, Manoel Ribeiro, Mauro Bessa, Jorge Alberto Mendes Júnior, Luiz Eduardo Lustosa e muitos outros colegas que hoje estão na Segurança Pública, na Magistratura e no Ministério Público. Por meio de concurso público exerci, de 1978 a 1985, o cargo de Delegado de Polícia. Também por meio de concurso público, passei a integrar o quadro de membros do Ministério Público a partir de 1985, no cargo de Promotor de Justiça. Daquele concurso realizado em outubro de 1984, quase todos chegaram ao topo da carreira. Eu, Francisco Cruz, Pedro Bezerra, Silvana Santos, Maria José Nazaré, Maria José de Aquino, fazemos parte atualmente do Colégio de Procuradores, Órgão máximo da instituição. Passei pelas Comarcas de Barreirinha e Maués e ao ser promovido para a Comarca da Capital, em 1988, desempenhei as minhas atividades ministeriais nas promotorias da Quarta Vara de Família e, posteriormente, na Primeira Vara Criminal. Em 2002 fui promovido ao cargo de Procurador de Justiça, com atuação na Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça. A minha opção pelo Ministério Público aconteceu por razões circunstanciais. Fiz o concurso, gostei do que passei a fazer e descobri que o meu perfil é de Ministério Público. Procuro agir sempre com bom senso e sereno rigor. Entendo que devo ter planejamento profissional, organização e muita disciplina. Mas a disciplina não pode transformar o homem em robô, figura mecânica, incapaz de pensar. O importante no Ministério Público é saber lidar com a independência funcional, tão importante e necessária na busca da verdadeira justiça.

 

Como avalia sua passagem na Corregedoria do MP-AM, quais os principais desafios enfrentados e que mensagem o sr. deixa para seu sucessor ?

Resposta- Foi de muito trabalho. Sem falsa modéstia e, graças ao apoio dos Corregedores-Auxiliares Lílian Stone e José Herivelto e da equipe do Órgão, acho que dei conta do recado. Posso assegurar que contei com a ajuda de uma excelente equipe e dessa forma a tarefa foi cumprida sem atropelos. Com uma equipe competente qualquer um consegue sair vitorioso. Não tive nenhum prazer em apurar infrações disciplinares mas jamais caminhei pelas estradas da omissão, do protecionismo ou da perseguição. Sempre tive grande apreço pelo ser humano. Fui sempre aconselhado pelo bom senso, pelo respeito, pela lealdade e pela serenidade. Sobre desafios, devo dizer que o cargo de Corregedor já é um grande desafio. Desejo que o meu colega José Roque, homem inteligente e experiente, tenha êxito absoluto. Tenho certeza que com equilíbrio, discernimento e elevado senso de justiça sempre encontrará soluções para afastar as pedras que surgirem no seu caminho.

 

 

Como surgiu a ideia do livro?

Resposta - Este é o segundo livro sobre o tema. Como jornalista e radialista conheci muita gente. Conheci pessoas talentosas, interessantes, simples, humildes, celebridades, que ofereceram grande contribuição ao esporte, ao rádio, ao jornalismo, ao Amazonas e ao Brasil. Quando falo de simplicidade procuro fazer distinção do simples com o humilde. Pelé, por exemplo, mesmo sendo uma celebridade, continua mantendo a simplicidade. Tive a oportunidade de entrevistá-lo algumas vezes, na época em que ele era o rei dos gramados, e posso assegurar isso. No âmbito local, falando de jogadores, para citar alguns, faço referência aos irmãos Piola, Pepeta, Dermilson, Rolinha, Clóvis e não teria nenhuma dificuldade para fazer uma extensa lista de pessoas de bom caráter e reconhecido talento. O livro também procura relembrar de grandes nomes da crônica esportiva: Belmiro Vianez, João Bosco Ramos de Lima, João dos Santos Pereira Braga, Luiz Eduardo Lustosa, Arnaldo Santos, Carlos Carvalho, Valdir Correia, Flávio de Souza, Jayme Barreto e outros bons companheiros. Entendo que alguém tem que resgatar um pouco da história do futebol e do rádio amazonense, a fim de que a indiferença não venha colocar na vala do esquecimento nomes e fatos de uma bela fase. Resolvi contribuir para esse resgate por meio de um trabalho modesto, tímido, mas recheado de respeito e estima. As boas lições do passado podem, com certeza, orientar o futuro das novas gerações.



*O lançamento do livro "Lembranças do Futebol e do Rádio Amazonense", está marcado para o próximo dia 1º de março, às 11h, no auditório Carlos Alberto Bandeira de Araújo, na sede do Ministério Público do Estado do Amazonas.